quarta-feira, 19 de março de 2008

Cinema e resistência

Natasha Frota
Os cinéfilos de plantão retornam a antológica cinemateca do MAM, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Agora, revivem as décadas de 60, 70 e 80, no apogeu das transições político-sociais e voltam a se deparar com as conflituosas questões da juventude brasileira. Durante o mês de março, estudantes, curiosos, intelectuais, artistas e saudosistas dos antigos movimentos populares percorrem esta rara mostra “Cinema brasileiro lado B”.

Da ditadura à abertura da democracia, nomes de respaldo alimentam esta exibição, que atravessa a historiografia do mais puro cinema social brasileiro. Passa por Nelson Pereira do Santos, o precursor do Cinema Novo, a cineastas com filmes inéditos como José Agripino de Paula, com Hitler terceiro mundo e Nativa Solitária de Rômulo Person. Além de obras únicas, como dos diretores Antunes Filho e Henfil, que só realizaram um filme na vida.

Cinema expressivo ontem e hoje

A primeira fase do Cinema Novo, 1960 à 1964, é caracterizada pelo relato do cotidiano do povo brasileiro e pela mitologia do nordeste. Na segunda, contesta os equívocos da política desenvolvimentista e da ditadura, de 1964 à 1968. A última fase, até 1978, segue influenciada pelo tropicalismo. Em decorrência de grande repressão aos cineastas brasileiros surge o cinema marginal, que deixa de lado à ética e as formas lineares do Cinema Novo para exaltar o tosco e o deboche da situação cultural e social do país.

Para cantora Roberta Mossi, 25 anos, a mostra é importante para entender os problemas sócio-culturais da época e os de hoje. Apesar de serem realizados com baixo custo, proporcionam reflexão e debates em sociedade. “Gostaria que fossem mais procurados pelos jovens da minha idade, mas a falta de conservação de alguns filmes dificulta o entendimento, como problemas no áudio e imagens” – afirma a cantora.

Já para o poeta e escritor Inácio Enokibara, 55 anos, o processo de realização, a conservação da película, o momento histórico, os atores e o olhar do autor são verdadeiras aulas de história. A riqueza destes filmes encontra-se neste quase amador formato e o claro teor de protesto e insatisfação com a sociedade da época.

Segundo a bilheteria da mostra, o público que assiste ao circuito é flutuante. Tem dias que o espaço de cinema recebe um número razoável, porém nunca lota. A cinemateca tem espaço para 180 lugares e a entrada é franca.

Outras informações:
cinemateca@mamrio.org.br - 2240 4913

Ver programação:
www.mamrio.org.br

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